quinta-feira, 14 de outubro de 2010

PROFESSORES E PROFESSORAS COMO INTELECTUAIS NUMA SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO

Diante de mais um Dia do Professor, a sociedade é lembrada que existem professores e professoras. Comemora-se com homenagens ou com recesso o Dia do Professor. Mas será que a sociedade ainda valoriza esta função de professor/a? O que este/a professor/a ainda tem a dizer para a sociedade? Qual ainda é o efetivo valor desta função que possui tão longa história humana? Que a sociedade mesma responda sobre o que tem feito com estes profissionais! Que ela se pergunte quanto aos políticos que tem eleito para conduzir as grandes questões pertinentes à educação municipal, estadual e nacional!
Neste espaço quero, pois, dirigir minhas indagações a nós professores/as. Como comemoramos o nosso dia? Como temos nos encarado?:Como uma classe de trabalhadores e trabalhadoras com uma missão a desenvolver, ou como um bando de individualistas egocêntricos e narcisistas? Temos assumido nosso lugar de intelectuais na sociedade onde nos encontramos, ou temos aceitado medíocre e passivamente o poder que nos esmaga e impõe programas, estruturas e dominações ideológicas sobre o povo e, por extensão, sobre nós mesmos, reproduzindo uma sociedade desumana e excludente?
Para refletir sobre estas questões quero compartilhar com os professores e as professoras alguns pensamentos de uma belíssima palestra do Prof. Dr. Milton Santos, intitulada “O professor como intelectual na sociedade contemporânea”, publicada nos Anais do IX ENDIPE, 1998. Este grande pensador nos deixou escritos muito vivos e cada vez mais atuais sobre educação, nos lembra que vivemos cada vez mais sob a tirania do dinheiro e da informação em rede que tem gerado pobreza, exclusão, miséria. A técnica tem conduzido para o que se opõe à vida matematizando a existência e desenvolvendo um pensamento meramente calculante.
Diante disso, ele nos desafia a retomarmos a busca pela liberdade e pela verdade, o que é nosso destino como educadores. “Quanto mais o nosso trabalho for livre, mais educaremos para a cidadania. Quanto mais o nosso trabalho for acorrentado, mais estaremos produzindo individualidades débeis”, diz Santos.
Urge resgatarmos a utopia em nossos planejamentos, em nossas ações pedagógicas, acreditando que, UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL. Precisamos assumir nosso lugar de intelectuais e para isso pesquisar e trabalhar. Esse trabalho de intelectuais e educadores deve ser fundado no futuro. Intelectuais olham para o futuro. Não buscam o aplauso, diz Santos, mas unicamente a verdade. Por isso são “inadministráveis”. São fermento de uma verdadeira e intensa atividade de pesquisa – ensino – pesquisa. Jamais renunciam à crítica, pois renunciar à crítica significaria permitir o assassinato interno da democracia. Significa, num esforço de interpretar, desvendar a realidade. Significa ajudar e oferecer à comunidade educativa a enfrentar as situações da realidade.
Entretanto, este trabalho como intelectuais é arriscado. “Quem teme perigos”, diz Santos, “deve renunciar à tarefa de ensinar”, pois é preciso enfrentar as grandes questões da realidade de exclusão que decorrem de macrofenômenos políticos e econômicos e dos microfenômenos de ordem familiar e social.
Daí que, como intelectuais, precisamos tornar-nos indivíduos sem sermos individualistas. Para Santos, o indivíduo forte busca aperfeiçoar-se diariamente. Isso significa tornar-se consciente do mundo, do seu lugar,da sua comunidade, da sociedade, de si mesmo. Indivíduos fortes não recusam opiniões opostas, mas constroem outras e novas opiniões a partir do embate de idéias, pois “a crítica acelera a produção do pensamento e isso se torna produção coletiva do pensamento”, diz o referido autor.
Somente isso nos permitirá recuperar a dignidade e o respeito que nos é devido, garantindo-nos salários dignos, horas de estudo e discussão da prática pedagógica e um planejamento coletivo de nossas ações.

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